State of Decay
"State of Decay" tinha tudo para ser colocado na pilha junto com tantos outros 'jogos de zumbi' que surgem quase que semanalmente. A produção do estúdio Undead Labs, porém, consegue se destacar com um apocalipse desafiador, sistemas inteligentes e complexos e uma longevidade que não se vê todo dia - ainda mais em um jogo 'pequeno', feito para a distribuição digital.
Se tivesse um melhor polimento, mais modos de jogo - a maior ausência é o cooperativo online, recurso que estava nos planos da produtora mas não chegou ao fim do projeto - e fosse um pouco mais amigável com os iniciantes, "State of Decay" seria ainda mais recomendável. Mas mesmo com suas falhas ocasionais, ainda é um jogo obrigatório para os fãs do gênero.
Primeiro título do estúdio Undead Labs, "State of Decay" é um jogo de ação em mundo aberto, ambientado em um típico apocalipse zumbi: após uma infestação se alastrar pela região rural onde se passa a aventura, o jogador precisa coletar recursos, recrutar sobreviventes e estabelecer bases para lidar com os cadáveres esfomeados que vagam pela região.
Com elementos estratégicos muito mais profundos do que se poderia esperar e um forte componente randômico, "State of Decay" permite jogar diversas vezes a campanha sem repetir as situações além da história. Você levará entre 15 e 20 horas para concluir a aventura - e vai ser difícil não começar outra logo em seguida.
É fácil construir um mundo pós-apocalíptico hoje em dia, ainda mais desses que são infestados por mortos-vivos. Referências não faltam: cadáveres se arrastando pelas ruas, casas e carros abandonados em cidadezinhas do interior, até o tom de marrom no melhor estilo "The Walking Dead" parece ser obrigatório. Sobreviventes paranóicos e militares suspeitos completam a receita.
"State of Decay" tem tudo isso, mas não usa esses clichês de muleta: o mundo aberto onde a aventura acontece oferece uma boa quantidade de eventos aleatórios, hordas de zumbis que funcionam por conta própria, se movendo e se reunindo como consequência das ações dos personagens.
As pessoas que você encontra pelo caminho possuem histórias próprias, relacionamentos que vão se descortinando aos poucos, conforme o jogador se aprofunda - ou não - em suas pequenas tramas paralelas. Essas histórias, para quem domina o inglês, colocam você dentro do 'mundinho' do jogo e faz com que os outros personagens sejam mais do que um fardo ou 'vidas extras'. Você se sente responsável pela sobrevivência do grupo... o que não é uma tarefa nada fácil.
Os sobreviventes não tem grandes arsenais ou chances muito boas de saírem com vida - são frágeis e se cansam. Suas armas quebram com o uso. Seus tiros são terrivelmente barulhentos. Por melhor que seja a arma que você encontrar, ela não vai durar para sempre. E você pode ficar sem nada além dos punhos bem na hora que a cabana estiver cercada de mortos-vivos. Não é um jogo fácil e por isso, alcançar o sucesso é muito mais satisfatório.
Num primeiro momento, "State of Decay" parece um "GTA" com zumbis. A vontade é de correr pra lá e pra cá dando pauladas nos mortos-vivos, pegar um carro e sair atropelando a horda - golpear um zumbi com a porta do carro é uma sensação malignamente recompensadora, é preciso admitir. Mas aos poucos você descobre que o jogo é muito mais complexo, com todo um sistema de construção e microgerenciamento.
Dominar os sistemas de jogo não é tarefa fácil: nada é explicado em um tutorial. Você pode ir pela tentativa e erro ou procurar ajuda na internet. Assim como em outros clássicos 'cult', como "Dark Souls", uma comunidade crescente de entusiastas é a única tábua de salvação para os não-iniciados.
Você pode construir instalações para sua base e melhorar suas defesas, aumentar a moral dos colegas ao acumular remédios, armas e munição - mas é preciso equilibrar isso com o desenvolvimento pessoal de cada personagem, com os equipamentos que vai levar em uma missão e assim por diante.
Aqui, você não tem 'vidas' ou checkpoints: conforme progride no jogo, mais sobreviventes se juntam ao jogador. Você pode alternar o controle entre eles, após cumprir uma boa quantidade de missões para cada personagem. Assim, quando um deles está muito ferido ou cansado, você passa para o próximo. Mas se um deles morrer, qualquer um, já era. Ele morreu e levou todo o tempo que você investiu em suas habilidades. Morte permanente é sempre um elemento de tensão e que funciona muito bem, seja em "X-COM", no modo hardcore de "Diablo III" ou aqui, em "State of Decay".
Testar suas estratégias de sobrevivência contra as hordas zumbis é um dos elementos mais bacanas de "State of Decay". Permitir que você faça apenas isso, sem se preocupar com a história, é uma opção que deveria estar presente desde o dia do lançamento.
A campanha de "State of Decay" leva entre 18 e 25 horas de jogo, dependendo da sua pressa e habilidade. Ao terminar, você vai querer começar de novo, com aquela sensação de 'poderia fazer melhor da próxima vez'. E vai passar por várias situações diferentes, não na história principal, que é sempre a mesma, mas nos muitos encontros aleatórios e na estratégia adotada para a construção de suas bases. Os recursos ao redor sempre são diferentes, o que estimula procurar novas formas para avançar.
Por fim, o jogo permite abordagens diferentes da parte do jogador: você pode se especializar em usar armas brancas. Pode ser um jogador totalmente furtivo, evitando ao máximo enfrentar ou chamar a atenção dos zumbis. Pode até tentar ser um 'Rambo', detonando tudo que aparecer. A escolha é sua, mas de qualquer maneira, não vai ser fácil sair vivo de "State of Decay".
- Faltam tutoriais básicos
O maior problema de "State of Decay" é que o jogo deixa você totalmente no escuro quanto aos seus principais sistemas. Você aprende os controles básicos no começo: bater, defender, correr, vasculhar um local em busca de recursos. Dirigir. Abrir a porta do carro para acertar zumbis na estrada. Mas o principal, que é administrar sua base, mudar o quartel-general para uma nova localização, enfim, toda a parte estratégica, não possui um único tutorial para ensinar como se faz.
Diferente de outros jogos atuais, "State of Decay" não pega o jogador pela mão e o leva pela estrada em um passeio assustador. Até aí, tudo bem. Mas não ensinar nada sobre seus sistemas mais complexos e interessantes, deixando o jogador aos cuidados da comunidade - se ele tiver a perspicácia de ir para a internet procurar ajuda, claro - é um extremo nada bem vindo.
Por quase todo o tempo em "State of Decay", seu personagem está acompanhado de pelo menos mais um sobrevivente. As mecânicas de combate corporal permitem agarrões e outros golpes em dupla. Tudo aqui pede por um modo cooperativo, seja em tela divivida ou online. Isso não é a toa: a opção estava nos planos da Undead Labs, mas acabou cortada na versão final. Fica a torcida para que seja introduzida futuramente, através de uma atualização, quem sabe?